quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Um Ode

Eu me lembro do rádio na cozinha, alguma música antiga tocando e você na pia lavando a louça do almoço, ou qualquer outra louça.
Lavar louça era a sua missão na vida - eu brincava - era sua terapia - você dizia.
Eu não gostava das músicas, mas gostava de te ver cantarolando e lavando a louça.
Ás vezes você corria para o telefone e tentava falar ao vivo com o locutor, me fazia ligar também e pedir músicas que eu mesma não conhecia e não sabia pronunciar.
Quando não ligávamos, você escrevia cartas. Eu não podia ler, você não deixava, mas eu não ligava em não saber o que estava escrito, achava sua caligrafia linda, simples e cheia de poesia.

Havia os dias em que a vida não era muito doce com você, e para esses dias você ia para o quarto e me fazia ficar com você deitada, contando suas histórias, falando sobre seus pais e em como a minha "personalidade forte" não deixava entender a minha mãe, mas que precisava aprender.
Eu adorava ouvir seus conselhos, sua risada, seus xingamentos, desabafos e histórias sobre a vida de cada um da nossa família.

Você lembra que foi você que me iniciou no mundo da cozinha? Me incentivou a cozinhar. Começamos pelo simples os bolos de chocolates, depois de laranja, depois os bolinhos de chuva até autorizar que eu fizesse meu primeiro arroz, todo mundo duvidava da minha capacidade (inclusive eu mesma), mas você não. Talvez por isso hoje, cozinhar, tem muito mais a ver com amor para mim do que o simples fato de comer.

Também houveram as vezes que você tentou (sem sucesso) me ensinar a arte da costura, eu nunca tive esse dom, você tentou tantas e tantas vezes, com sua paciência, amor, mas eu... sempre "elétrica" como você dizia, não parava quieta e a costura, precisava de paciência, coisa que eu nunca tive, desde pequena.

Tentamos um bordado uma vez, lembra? Eu lembro que a ideia era fazermos uma toalha, eu já era adolescente e tinha um pouco mais de paciência, depois com os estudos e o trabalho deixei com você, para terminar, mas até hoje eu não sei o que aconteceu com a "toalha de bordado".

Sinto falta de muitos momentos e não consigo enumerar todos agora, hoje, foram e são muitos guardados em mim principalmente os que você retomava a sua história, a sua infância, adolescência e vida adulta.

Você sempre começava com: "Eu me lembro que..." e agora, estou eu, escrevendo sobre coisas que eu me lembro, na tentativa de você também lembrar."


Com amor, para a pessoa que não me gerou no ventre, mas na vida. 

Salve, Silvina. 

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Aprisionada

Você sempre foi a Mulher mais
controversa que conheci.
Da doçura, dos abraços, beijos e
poesia que era compartilhar o viver com você.

Porém também dos dias de tormenta, das tuas sombras
e demônios que vez ou outra apareciam.

O lado considerado ruim, nunca me importou
porque comigo você sempre foi amor, aconchego,
acolhimento, paz.

Para mim, vó sempre foi sinônimo de casa, de lar.

Tem dez anos que tudo se modificou. Algo partiu,
talvez você, talvez eu... mas eu te perdoo.

Você que sempre me ajudava a soltar os pássaros
das gaiolas, hoje te liberto, pode voar!


17 de Maio de 2019.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Almas de amores

Corpos separados, coração apertado.

Talvez, a saudade seja a resposta de tantos
anos longe, dos desencontros e da
necessidade das almas permanecerem juntas.

Porque eu te amo nessa e em todas as outras vidas.

(e além)

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Era outra vez

Eu, mulher-menina.

das cicatrizes de 23 anos mais ou menos,
ficam os curativos de todas as mulheres
que compartilham a vida,
elas acolhem,
abraçam
e amam.

São a cura.

Hoje, não sou mais a menina de cinco anos
e não aceito mais violência.